Pesquisadora da Universidade Politécnica de Valência relata experiência de trabalhar na Ufam
- Detalhes
-
Publicado: Segunda, 08 Junho 2015 16:00
Professora Susana Paixão Barradas, da Universidade Politécnica de Valência (UPV), pesquisadora na área de Design de produto, com foco na investigação de métodos e técnicas tradicionais de como trabalhar materiais naturais visando apresentar propostas inovadoras para o desenvolvimento de produtos com valor comercial acrescentado, cede entrevista à ARII e fala da rica experiência de trabalhar como pesquisadora Visitante na Ufam.
ARII – Como surgiu o interesse de vir desenvolver trabalho de pesquisa na Ufam?
Susana Paixão - O meu interesse por vir pesquisar na Ufam surgiu pelo conhecimento que fui adquirindo ao trabalhar com a minha colega de doutorado, atual Coordenadora do curso de Design, professora Karla Mazarelo. Nós trabalhamos juntas na realização das nossas teses, partilhamos muitos momentos de alegria, de devoção, de fé. Também vivenciamos momentos de frustração e de tensões; elaboramos artigos, lemos e relemos as teses de cada uma, organizamos nossos objetivos de trabalho. Enfim, toda esta troca permitiu-me conhecer ou ter uma ideia do que era Manaus, o Amazonas, de como se pesquisa aqui, quais eram as entidades, os sistemas, os métodos, as técnicas, as ferramentas utilizadas na pesquisa. Tudo suscitou em mim um enorme interesse de aprofundar essa experiência e esse conhecimento. Acredito que a minha forma de trabalhar e a minha experiência podem contribuir de alguma forma para o crescimento da comunidade acadêmica Ufam, assim como eu estou recebendo e aprendendo muito.
ARII – Além da pesquisa a senhora está ministrando alguma disciplina na Ufam?
Susana Paixão - Como Pesquisadora Visitante Especial eu estou me dedicando ao desenvolvimento da pesquisa “Design e desenvolvimento de novos produtos a partir de matérias primas naturais da Amazônia”, porém, apesar de não estar diretamente lecionando, a realização de workshops (uma das atividades do projeto) me dá oportunidade de falar aos alunos do curso de Design sobre a criação e desenvolvimento de produtos.
ARII - Como foi o processo de vir para a Ufam, foi por meio de Programa específico ou outro?
Susana Paixão – Minha vinda para a Universidade se deu no âmbito do Programa Ciência Sem Fronteiras, na modalidade de Pesquisador Visitante Especial, por meio dos órgãos de fomento CAPES e CNPq. Eu fui convidada pela Ufam para participar de um projeto intitulado: 'Design e desenvolvimento de novos produtos a partir de matérias primas naturais da Amazônia' que tem como objetivo principal gerar e organizar informações de modo a analisar os aspectos que envolvem o universo das matérias primas naturais para seu uso comercial e propor ao mercado o design de produtos que correspondam com os atributos formais, funcionais e ergonômicos, visando à competitividade e a inovação tecnológica do produto final para o alcance de novos mercados. Na primeira fase do projeto (realizada de outubro a dezembro de 2014) foram levantadas todas as informações teóricas, técnicas e científicas sobre as matérias primas envolvidas no projeto (Pedra Mármore de Portugal; Madeira e Fibra Tucumã do Amazonas), sobre os centros produtivos e sobre a legislação. Na segunda fase (abril a julho de 2015) estamos desenvolvendo os protótipos dos produtos que juntam os três materiais. No final, pretendemos apresentar os resultados do projeto em forma de um catálogo e de uma exposição, onde mostraremos todos os produtos desenvolvidos e explicaremos o contexto em que foram criados. Além disso, o projeto conta com o apoio técnico-científico do Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas - INPA, do Centro Tecnológico da Pedra Natural de Portugal - CEVALOR e da Universitat Politecnica de València - UPV.
ARII - Como tem sido a experiência de conviver com outra cultura?
Susana Paixão - A minha experiência de viver em Manaus, e em particular de conviver com a comunidade acadêmica da Ufam tem sido muito satisfatória e positiva em todos os níveis. Há, como é natural, muitas diferenças entre a cultura europeia de onde eu venho e a cultura manaura. Contudo, não tenho sentido dificuldade em me adaptar. As pessoas são muito acolhedoras, são prestativas, atentas e têm muita vontade de aprender e de conhecer sobre outros modos de vida, outros modos e métodos de trabalho. Também sinto que, tanto os alunos como os professores, gostam de mostrar as suas riquezas e partilhar o seu conhecimento, sem grandes pretensões, nem ostentações, as pessoas daqui dão o melhor que têm! Eu gosto desta honestidade! Eu sou uma pessoa curiosa, interessada, otimista, extrovertida e encontrei aqui um “poço sem fundo” de novas experiências e de possibilidades que me satisfazem e me mantêm alerta todos os dias nesta busca pelo conhecimento. Obviamente que esta facilidade de adaptação deve-se a forma como fui integrada e recebida. Eu aproveito para agradecer a todo o grupo de docentes e discentes do Departamento de Expressão Gráfica da Faculdade de Tecnologia, sobretudo às professora Karla Mazarelo e Patricia Braga, pela forma como desde o primeiro dia me acolheram, fazendo-me partícipe de todas as atividades do departamento e colocando-se à disposição para partilhar comigo diferentes experiências. Sem dúvida, não teria sido o mesmo se não recebesse este apoio incondicional dos colegas!
ARII - Como a senhora avalia o ensino de Design em nossa universidade?
Susana Paixão - Na verdade, para poder responder a esta questão de uma forma mais objetiva e segura eu precisaria ter um conhecimento mais aprofundado sobre a estrutura do curso. No entanto, ao estar integrada no departamento que coordena o curso de Design e ao trabalhar com alguns alunos e professores do curso, eu posso dizer que percebo a grande capacidade criativa, de improvisação e de comprometimento que os alunos têm quando expostos a diferentes adversidades durante a fase de criação. Percebo que os professores dominam os conhecimentos necessários e insistem na compreensão de conceitos relacionados com a teoria do Design. Contudo, observo por parte dos alunos, e penso que é uma crítica que se estende também aos alunos que tive ultimamente na UPV, uma certa falta de espírito crítico, de dificuldade de concretização, de medo de arriscar. Penso que se deve ao fato da inexperiência próprias dessa fase, mas também à superproteção a que estão submetidos, seja por nós professores ou pelos pais. Por outro lado, acredito que, com as condições físicas disponíveis (laboratórios, oficinas, espaços de trabalho) e geográficas (riquezas de materiais, inspiração da natureza, etc.) a Ufam tem condições de formar excelentes profissionais, Designers de Produtos com o mais alto reconhecimento, inclusive de prestigio internacional.
ARII - Em termos acadêmicos e quanto à rica experiência de troca de conhecimentos qual o seu depoimento sobre sua estadia na Ufam? A senhora se envolveu, por exemplo, com outros grupos de pesquisa ou outro trabalho similar?
Susana Paixão – Durante esse período de sete meses envolvi-me como participante em muitas outras atividades do departamento Design, como por exemplo, a Semana de Design, o CINPAD, pois uma participação mais ativa na comunidade acadêmica era-me limitada pelo contrato que tenho com a CAPES. Como depoimento gostaria de deixar um pensamento que transmita otimismo, força, boas energias, esperança para todos aqueles que são sonhadores, encorajando-os a nunca deixarem suas ilusões para trás. Então digo: Na Ufam pude expor uma ideia na qual acreditava e encontrei outras pessoas que acreditaram junto comigo. Foi muito gratificante! A experiência resultou num desenvolvimento considerável das minhas habilidades técnicas e interpessoais, necessárias durante o período do projeto, e que, sem dúvida, são um grande diferencial para o meu futuro profissional.
ARII – Seus comentários finais
Susana Paixão - Gostaria de reforçar os meus mais sinceros agradecimentos a todos os professores, técnicos e alunos que compõem o departamento de Desgin, pela gentileza, profissionalismo e atenção com que me recebem todos os dias; em especial às professoras Karla Mazarelo e Patricia Braga. Agradecer também à Magnífica Reitora da Ufam, professora Márcia Perales e a toda a equipa da Pró-Reitoria de Inovação Tecnológica (PROTEC), em especial às professoras Maria do Perpétuo Socorro Chaves e Maria do Perpetuo Socorro Lima Verde Coelho, pela recepção e acolhimento que me deram durante a minha permanência. Quero destacar também, e agradecer, a importância da participação da professora Mirella Sousa pela sua dedicação e apoio técnico em todas as atividades do projeto como uma das principais colaboradoras. Quero agradecer também a CAPES pelo financiamento do projeto; ao INPA, em especial às doutoras Claudete Nascimento e Ires Miranda, por acreditar no projeto e por facilitar o contacto e a troca de conhecimentos; ao CEVALOR, em especial à senhora Marta Peres e ao técnico António Pinguicha, pelas indicações técnicas e apoio no desenvolvimento dos protótipos; à UPV, em especial ao professor Bernabé Hernandis, pelo trabalho conjunto e de intercâmbio que tem sido possível desenvolver com os seus alunos. A todos os colaboradores destas instituições Doutores, Professores, Técnicos, alunos, sem os quais este projeto não seria viável.