Ufam é vencedora do Prêmio de Empreendedorismo Santander 2015
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Publicado: Quarta, 23 Março 2016 09:18
O projeto de empreendedorismo “Nuya'rlitua: a fibra do coração”, do Grupo de Pesquisa Dabukuri, cuja a proposta é criar associação com vistas à organização da produção e comercialização de produtos indígenas, mais especificamente a extração da piaçava, foi o vencedor do Prêmio Empreendedorismo Sustentável Santander 2015 (2ª edição) com a premiação de recurso no valor de R$ 50 mil reais. Diego Ken Osoegawa, um dos autores e aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente, conta que soube sobre o prêmio por amigo que trabalha em São Gabriel da Cachoeira, então “decidi apresentar a minha orientadora e aos demais membros do grupo de pesquisa, alguns ficaram bastante animados, outros nem tanto, o certo é que participar do concurso poderia nos garantir a continuação do trabalho”, comenta.
De acordo com o mestrando, a proposta do projeto é totalmente diferenciada porque foi e está sendo realizado sob a concepção coletiva. “Eu sempre digo ao Grupo que é preciso descolonizar o pensamento, ou seja, é um trabalho para ser feito coletivamente, e nesse sentido ouvir a comunidade indígena se torna imperativo”, esclarece a professora Ivani Ferreira, coordenadora do curso de Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável e orientadora do projeto.
Todo o trabalho de pesquisa foi feito junto à comunidade indígena Werekena, povo que vive ao longo das margens do Rio Xié já que o objetivo do projeto era diagnosticar todos os problemas e entraves ligados à cadeia produtiva da Piaçava no Rio Xié. “Esse primeiro momento de investigação nos permitiu compreender a realidade em torno da cadeia produtiva e ao ouvir os relatos do povo Werekena percebemos a falta de autonomia dos trabalhadores sobre a produção, com a presença de atravessadores, como por exemplo, o “regatão”, figura tão conhecida na história do Amazonas”, comenta Diego Ken.
Porém, identificar e diagnosticar o problema não são suficientes para quebrar todo esse círculo produtivo de exploração, é necessário organizar a cadeia produtiva com vistas à estabelecer regras de produção e comercialização sob a perspectiva da economia indígena e não do ponto de vista do mercado cuja a tônica é a padronização. Sobre essa questão, Osoegawa explana que “a organização econômica de um grupo indígena está intimamente ligado a todo o arcabouço cultural, ou seja, concepções religiosas, sociais e cosmológicas são totalmente levadas em consideração, no caso específico do grupo Werekena isso significa que essa economia agrega valores como gratidão, o que exclui o sentido de acumulação”.
No entanto, a professora Ivani Ferreira explica que o mais importante é que o povo Werekena seja protagonista da própria história, construindo a partir de aberta e ampla discussão projeto político que contemple não somente a questão econômica, mas toda a realidade que os cerca. “Sem dúvida o prêmio foi muito importante para impulsionar a formalização do empreendimento, porém, ele é apenas uma parte de um processo muito maior que na verdade deve culminar com a autonomia política e financeira do povo Werekena”, conclui.
Por que Nuya'rlitua
Após várias reuniões sobre a operacionalização do projeto, a última decisão foi escolher o título. “Precisávamos de um nome que extrapolasse a concepção pura e simples de troca de produtos, pois para o povo Werekena a troca de produtos está baseada nas relações familiares e de amizade”, explica Diego Ken. Além disso, piaçava tem sua origem na língua Nhengatu, sendo chamado de Piasawa: Pia significa coração e Sawa significa pelo ou cabelo. Diante disso, o grupo achou que o nome Nuya'rlitua (língua Werekena), cujo significado é “meu irmão”, associado ao significado de piasawa refletiria a proposta do projeto de promoção da autonomia do povo Werekena.
Conheça o Grupo de Pesquisa "Dabukuri – Planejamento e Gestão do Território na Amazônia"
O projeto foi elaborado por Diego Ken Osoegawa, Adailton Pompilho Baltazar Werekena, Eunice Gomes Cordeiro Baré, Josimar Silvano Cândido Werekena, Launirklisons Baltazar Antônio Werekena, Rodrigo Cândido Baltazar Werekena, e orientado pela professora Ivani Ferreira de Faria.
Sobre o Prêmio
O Programa Amazônia 2020, do Santander Universidades, criou o Prêmio Empreendedorismo Sustentável com o objetivo de incentivar alunos, professores e universidades da região norte do País a desenvolverem ideias empreendedoras com ênfase na geração de negócios, na aplicabilidade de economia reversa e nos benefícios para a sociedade do entorno.
Lançado em 2010, o Programa Amazônia 2020 é uma iniciativa única de apoio à comunidade acadêmica com mais de 100 mil professores e alunos beneficiados no norte do país. Até 2015, mais de 57 mil pessoas já foram impactadas com bolsas de estudos, seminários de direito penal internacional, espaços digitais, palestras de orientação financeira e a 1ª edição do Prêmio Empreendedorismo Sustentável.
A cerimônia de premiação 2015 ocorreu no dia 17 de março de 2016, na Universidade Federal do Pará (UFPA).