Em entrevista à ARII, o professor Daniel Armond, do departamento de Administração da Faculdade de Estudos Sociais, diz que experiência do intercâmbio trouxe equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, além de ter acrescentado positivamente em sua carreira profissional.
Dupla oportunidade
“Ao ser selecionado pelo Programa de Bolsas Internacional Livre para Professores Santander Universidades para realizar mobilidade durante quatro meses em Portugal com a finalidade de realizar curso de aperfeiçoamento em Análise de Dados e Datamine (novos softwares que facilitam a organização de grande quantidades de dados), decidi aproveitar o momento para concluir meu pós-doc, pois já dispunha de bolsa da Capes para isso. Na verdade, o curso complementava os estudos do doutorado e deu suporte para realização da pesquisa de pós-doc sobre “Transferência de Tecnologias das Universidades para as Empresas. Além disso, eu tive a oportunidade de realizar curso (em inglês) de “Avaliação de Risco em Gerenciamento de Projetos”, com renomado professor da Universidade de Tecnologia Gdansk, Polônia, Rafal Leszczyna".
Experiência em família
“Arrumar as malas foi fácil, difícil foi preparar toda família (esposa e os quatro filhos) para seguir nesta aventura ao meu lado, pois isso exigia mudanças um tanto difícil, principalmente para as crianças. Mas, embora esta decisão tenha sido mais trabalhosa por conta de logística diferenciada de cuidados a tomar, eu não tenho dúvidas que fiz a escolha certa por que as crianças puderam vivenciar rica experiência cultural, onde uma das coisas marcantes foi eles poderem ver “in loco” o que só viam nos livros, como por exemplo, as mudanças das quatro estações do ano, algo simples, mas que nós não temos em Manaus e foi muito interessante pra mim também perceber como a vida dos portugueses é condicionada pelas mudanças climáticas, no verão (junho a setembro) a cidade fica mais agitada porque as pessoas querem aproveitar ao máximo esse período de calor, então, elas saem mais, principalmente para a praia".
Primeiros dias
“Ao chegar a cidade do Porto toda nossa instalação foi norteada pela necessidade de estarmos perto da escola onde as crianças estudariam, de um hospital (caso tivéssemos alguma urgência) e também próximo à universidade do Porto, como ainda no Brasil já havíamos feito algumas consultas, isso facilitou com as providências. Acho que com cerca de vinte dias estávamos totalmente instalados e prontos para uma nova vida, ou seja, eu pude comprovar que realizar intercâmbio na companhia da família é totalmente possível é só se preparar antecipadamente, se municiando do máximo de informações, atentar, por exemplo, que o ano letivo em quase toda Europa inicia em setembro. Quanto à recepção na Universidade do Porto (UP) foi a melhor possível, recebemos todo o apoio necessário para nos movimentarmos em todos os espaços.”
Nas entrelinhas de Portugal
Ainda existe um preconceito muito forte com o Brasil por parte dos portugueses. Meus filhos por várias vezes chegaram da escola com esta queixa, então mostrava a eles que deveriam se orgulhar de serem brasileiros. Na própria universidade observei esta atitude entre os professores mais antigos, enfim, acabamos por restringir nossa vida social mais com outros brasileiros, mas sempre que possível fazíamos questão de dialogar de forma mais aproximativa com os portugueses. Porém, mesmo sem tanto estreitamento, pudemos absorver muito da cultura portuguesa. Os idosos, por exemplo, são vistos como pessoas produtivas, ficam na fila igual as outras pessoas, mas claro este é um fator ligado diretamente à qualidade de vida que o País proporciona”
Aproveitamento acadêmico
"É muito bom poder afirmar que nosso aproveitamento acadêmico foi de 100% em todos os cursos. Sobretudo, ressaltamos a realização do pós-doc, pois desde 2013, ano em que concluímos nossa tese e fomos agraciados com o Prêmio Capes de Teses que nos outorgou bolsa de estudos, planejávamos concluir esta etapa acadêmica. Então, quando saímos do Brasil em março de 2016, já havíamos acertado tudo com a UP, inclusive com orientador, professor Mário Ruy Silva. Investigamos, por meio de pesquisa junto às universidades do Porto, Coimbra, Minho e Aveiro, como se dá a transferência de tecnologias das Universidades portuguesas para as empresas em comparação com o Brasil. Verificamos que as universidades portuguesas estão um pouco a frente, uma vez que já administram significativa quantidade de contratos de licenciamento de transferência de tecnologia para as empresas, enquanto que no Brasil inexiste uma cultura de proteção à pesquisa e sua publicação.”
O “Daniel” após o intercâmbio
“Sem dúvida eu pude experimentar muitas mudanças, mas em síntese eu diria que enxergo novos caminhos para a universidade brasileira, interagindo mais como o setor produtivo, absorvendo conceito empreendedores. Como pessoa eu incorporei a manutenção de uma vida com mais qualidade e aprendi a equilibrar vida pessoal e trabalho”, conclui.