Em entrevista à ARII, o aluno de Engenharia da Computação, Edson Nascimento, conta com entusiasmo sobre a experiência de passar um ano na Finlândia estudando na Universidade of Technology Lappeenranta e estagiar em uma Startup, especializada em fotografia. Vale a pena conferir.
ARII - Fale sobre sua decisão de realizar intercâmbio, era um sonho?
Nascimento - Sim fazer intercâmbio era uma espécie de sonho, mas também um desejo, que se desdobrava em curiosidade em conhecer a cultura e o método de ensino de países nórdicos, por isso resolvi me candidatar.
ARII - Por que a Finlândia?
Nascimento - O curso no qual estou matriculado na Ufam (Engenharia da Computação) possui muitas ramificações e uma delas é o desenvolvimento de software, pelo qual tive muito interesse desde o inicio do curso. A Finlândia é referência internacional em Engenharia de Software e proporcionalmente um dos países que mais forma engenheiros dessa área em toda a Europa.
ARII - Relate sobre sua adaptação em um novo País (moradia, refeições, baixas temperaturas, integração à nova universidade, enfim o que foi difícil ou não)?
Nascimento - A adaptação foi um pouco difícil porque o clima finlandês é extremamente diferente da maioria das regiões climáticas brasileiras, e mesmo no fim do verão, quando eu cheguei lá havia temperaturas que eu nunca enfrentei no Brasil, algo por volta de 20 graus com sensações térmicas de 15. A alimentação foi outro choque, pois como brasileiro, estou acostumado a comidas com sabores fortes, ou pelo menos bem definidos. O que não parece ser o forte finlandês. A maioria dos pratos servidos na universidade e em casas em geral possui pouco sal ou pouco açúcar, e o consumo de verduras, derivados do leite e pães integrais é fortemente encorajado.
A moradia era relativamente confortável se comparada à de colegas em outros países. Morei em um apartamento de dois quartos e sala/cozinha providenciado por uma imobiliária ligada à universidade, especializada em moradias estudantis de baixo custo. Morava juntamente com um colega russo. O maior choque talvez foi com o rigoroso inverno finlandês, com temperaturas que chegavam a 30 graus negativos e 6 horas ou menos de luz do sol por dia, essa foi a parte mais difícil em minha adaptação, visto que por causa da falta de luz eu estava sempre cansado e durante os finais de semana eu "hibernava" e após acordar, não sabia se havia acordado cedo demais ou tarde demais porque nos dois casos não havia sol.
ARII - Como foi a imersão na língua estrangeira? Você morava com brasileiros?
Nascimento - O povo finlandês é majoritariamente bilíngue, portanto não tive grandes problemas com a complicada e antiga língua nativa, o finlandês. A maioria das pessoas (os adultos e jovens) têm sólido conhecimento de inglês, então tarefas como pagar aluguel, resolver burocracias documentais na universidade e outras que requerem diálogo não foram difíceis. Mas mesmo assim me matriculei em dois cursos de finlandês (níveis I e II), o que facilitou a interação com os finlandeses. Eu não morei com brasileiros, aliás encontrei apenas dois outros brasileiros na universidade de Tecnologia de Lappeenranta, a qual frequentava.
ARII - Fale sobre sua atuação acadêmica, quantas disciplinas cursou? algo que você ressalte, como um conhecimento novo?
Nascimento - Na universidade eu cursei, ao todo, 7 matérias, sendo que duas delas eram sobre a língua local. Nesse ponto houve uma certa dificuldade, pois a Universidade de Lappeenranta não esperava alunos de intercâmbio para a graduação regular, então as matérias que eu cursei eram praticamente todas do currículo de mestrado. Fora isso, a educação finlandesa é incrivelmente flexível e eficiente, com foco na experiência prática. As universidades finlandesas possuem uma ótima infraestrutura e suporte (por exemplo, em matérias práticas, como Sistemas Embarcados, onde dispositivos caros seriam utilizados, a universidade "emprestava" todos os componentes necessários aos alunos para que eles pudessem tranquilamente desenvolver as atividades sem se preocupar com custos), além de serem compreensivas com alunos que precisam trabalhar (afinal, os jovens finlandeses saem de casa cedo e tem de arcar com despesas como aluguel, transporte e alimentação quase sozinhos), o que torna o ensino algo leve e proveitoso.
ARII - E sobre o estágio, conta essa história pra gente?
Nascimento - Sobre o estágio, foi uma das partes mais interessantes do intercâmbio. Estagiei em uma startup chamada Glostars, especializada em fotografia e que possui uma rede social para amantes de fotografia e realiza várias exposições durante o ano. Fui integrado ao time para ajudar a desenvolver um aplicativo para a empresa, com conhecimentos que obtive na Universidade filandesa durante os estudos. Foi uma ótima experiência para estar em contato com o mercado de trabalho e as ferramentas usadas no ramo da engenharia que pretendo seguir. Assim como as aulas, os horários na empresa eram flexíveis, as atividades desafiadoras e o reconhecimento era ótimo. Além do fato de que a companhia mantém as oportunidades em aberto caso eu queira retornar à Finlândia para um emprego mais profissional na minha área.
ARII - Além das atividades acadêmicas e de estágio, você se envolveu em algo mais, tipo trabalho voluntário? era responsável por algum laboratório? participou de clubes de alunos?
Nascimento - Sim! Fiz algo que meus colegas brasileiros considerariam muito difícil: fiz montes de amigos finlandeses! (difícil porque os finlandeses são tímidos e gostam de andar em seus próprios grupos). Como sou cristão, a comunidade local de jovens cristãos me recebeu de braços abertos e daí a conhecer novas pessoas foi um pequeno passo. Desenvolvemos várias atividades juntos, inclusive uma peça especial de natal! Foi ótimo para treinar minha proficiência em finlandês e me integrar à sociedade finlandesa rapidamente.
ARII - Como você avalia seu desenvolvimento pessoal após esta experiência?
Nascimento - Considero que ganhei vários anos de maturidade após esta experiência. Pagar as próprias contas, fazer o próprio almoço, viajar grandes distâncias sozinho, se virar onde ninguém fala sua língua, fazer as compras, coisas que eu levaria muito mais tempo para começar a fazer caso estivesse com meus pais (que fazem todas essas coisas). Desenvolvi muito mais responsabilidade com os estudos e pude perceber o retorno. Posso parecer o mesmo após a volta pra casa (na verdade ganhei alguns quilos), mas me sinto uma pessoa muito diferente da que foi à Finlândia, mais madura, responsável e pronta.
ARII - Sem dúvida o CsF oportuniza efetiva experiência de novos conhecimentos, como você imagina contribuir com sua cidade e/ou País após esta experiência? Existe por exemplo, a Rede CsF criada por ex-intercambista com o objetivo de fortalecer a ciência, a tecnologia e a inovação no País, você estaria disposto a se tornar um membro da Rede?
Nascimento - A Finlândia é uma pequena grande nação incrivelmente desenvolvida tecnologicamente. Me deixou boquiaberto a quantidade de técnicas e tecnologias aplicadas no dia-a-dia finlandês que tornam a vida da população muito mais fácil. Observando atentamente todas estas tecnologias, voltei ao Brasil com ideias saindo pelas orelhas. Faz um tempo que estou desenhando o esboço de uma ferramenta que vai ajudar muito os estudantes. Acerca da Rede Csf, estive pesquisando e estou certo de que tenho muito a contribuir e adicionar à vasta rede de experiências que foi criada, é minha pretensão participar.
ARII - o que você diria aos nossos alunos e professores para incentivá-los a fazer intercâmbio em outro País?
Nascimento - Eu diria que esta é uma experiência valiosa, que além de mudar sua visão de mundo, o mudará como pessoa, promoverá seu acelerado crescimento e abrirá inúmeras portas. Se você tiver dúvidas acerca de sua carreira, você certamente se encontrará assim como eu, que não sabia qual especialização seguir, e lá descobri que desenvolvimento de software é o que eu quero. Enfim, é tipo de experiência que você só tem a ganhar.